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10 dicas para prevenir erros diagnósticos

Leandro Diehl – 23/05/2018

Em 2015, o Instituto de Medicina dos Estados Unidos publicou um relatório importantíssimo sobre erros diagnósticos. As principais conclusões desse trabalho, intitulado “Melhorando o diagnóstico no cuidado à saúde” (“Improving diagnosis in health care“) foram as seguintes:

  • erros diagnósticos são comuns: cerca de 10% a 15% dos diagnósticos estão errados;
  • erros diagnósticos são potencialmente graves: estima-se que 40.000 a 80.000 mortes por ano nos Estados Unidos sejam devidas a erros diagnósticos;
  • erros diagnósticos podem – ao menos, em parte – ser prevenidos.

Pensando nesse problema, o Dr. Mark Graber, fundador da Sociedade para Aperfeiçoar o Diagnóstico em Medicina (Society to Improve Diagnosis in Medicine -SIDM) e um dos maiores especialistas em erros diagnósticos no mundo, elaborou esta lista com 10 dicas para prevenir erros diagnósticos. 03/06/2018 23)52 Página 1 de 8 E a melhor notícia é que todas essas dicas são simples e podem ser postas em prática hoje mesmo!

Confira abaixo!


 

1) FAÇA O DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

A causa mais comum para deixar passar um diagnóstico é… não ter pensado nele!

Todos nós, seres humanos, diante de um problema, temos uma tendência natural a buscar uma resposta rápida. Com isso, podemos nos precipitar e acreditar demais na primeira hipótese que nos vem à mente. Confiar demais na sua intuição, muitas vezes, é uma armadilha!

Crie o hábito de levantar pelo menos 3 hipóteses para todos os seus pacientes, mesmo nos casos aparentemente simples. Ao pensar em mais possibilidades, fica mais difícil ser surpreendido por um diagnóstico inesperado!

Esta, provavelmente, é a mais importante de todas as dicas para prevenir erros diagnósticos:

Sempre pergunte-se: “o que mais pode ser?”

 

2) RESERVE UM TEMPO PARA REFLETIR

Nem sempre dá para parar e pensar, especialmente no prontosocorro ou com muitos pacientes para atender. Mas uma pausa para reflexão pode ajudar você a lembrar de algo, repensar alguma ideia e ainda tirar uma lição de cada caso atendido.

Sobrou um minutinho? Pare um pouco e reflita: será que estou deixando passar alguma coisa? Poderia ter feito alguma coisa diferente? Esqueci de pedir algum exame importante, ou pedi exames demais?

É o “diagnostic time out” – um tempo que pode tornar sua investigação mais objetiva e eficiente.

 

3) USE E ABUSE DA SEGUNDA OPINIÃO

Um colega que vê seu paciente pela primeira vez, sem ter uma impressão fechada na cabeça, pode perceber coisas novas (ou erros) que passaram despercebidos para você.

Um estudo com pacientes reavaliados pela Medicina Interna da Clínica Mayo mostrou que o diagnóstico final acabou sendo completamente diferente da hipótese inicial em cerca de 21% dos casos. Em Radiologia e Patologia, o diagnóstico também acaba sendo alterado em 5-10% dos casos, após uma segunda opinião.

 

4) USE FERRAMENTAS PARA APOIO DIAGNÓSTICO

Empacou com algum caso difícil? É só pegar o celular e usar algum dos vários aplicativos para diagnóstico diferencial. Você digita os principais achados clínicos do seu paciente e – voilá! – o app retorna uma lista de hipóteses diagnósticas pertinentes ao caso. Alguns exemplos são o Isabel, o VisualDx e o DxPlain.

Outra opção, mais analógica, é o uso de mnemônicos para diagnóstico diferencial ou checklists para ajudar a não esquecer nenhuma hipótese importante, tais como o nosso ACERTEINAMOSCA, o VINDICATE e outros.

 

5) APRENDA AS CAUSAS DE ERRO DIAGNÓSTICO

O nosso processo de raciocínio é sujeito a “vieses” que podem nos levar a erros. Há mais de 150 vieses cognitivos e afetivos que podem interferir no raciocínio humano, e muitos são fontes frequentes de erros diagnósticos em Medicina. Alguns exemplos são a disponibilidade, a representatividade, o efeito moldura e a ancoragem.

Lembre-se também que nossa memória e nossa atenção têm limites! Quando estamos distraídos, cansados ou infelizes, é comum deixarmos passar alguma informação, ou ficarmos confiantes demais numa primeira impressão diagnóstica. Portanto, reconheça que você é falível, e fique atento ao seu processo de raciocínio.

Está muito cansado? Não está “pulando” rápido demais para uma conclusão? Pare um pouco, tome um café – e pense novamente!

 

6) OUÇA DE VERDADE OS PACIENTES E SEUS CUIDADORES

Sabe depois de quanto tempo, em média, um médico interrompe um paciente que começou a contar sua história? 10 segundos! Não é de surpreender que os pacientes muitas vezes saem da consulta sentindo que não foram inteiramente ouvidos ou entendidos.

Comunicação ruim é outra causa importante de erro diagnóstico (e de muitos outros erros!).

Além disso, temos o péssimo hábito de usar jargão ou termos técnicos demais, dificultando o entendimento do paciente.

“Ouça seu paciente, e ele vai contar o diagnóstico para você.” Sir William Osler

 

7) ENVOLVA O PACIENTE NA BUSCA PELO DIAGNÓSTICO

Pacientes que se envolvem e participam mais do processo diagnóstico acabam tendo um desfecho mais favorável. Converse francamente com seu paciente sobre suas impressões e dúvidas. Inclua o paciente como um parceiro no processo diagnóstico! Eventualmente, o próprio paciente pode ser uma “rede de segurança” a mais, ajudando você a detectar e prevenir erros.

 

8) DIAGNÓSTICO É UM TRABALHO EM EQUIPE!

Não confie só no que está escrito. Converse diretamente com a enfermagem e com os profissionais que realizam testes diagnósticos, sempre que possível.

Radiologistas, por exemplo, em geral possuem o dobro de informação sobre seu paciente do que aquilo que está escrito no laudo do exame.

A enfermagem, por estar em contato mais constante com seu paciente, frequentemente possui informações que não chegam diretamente até você – se você não perguntar.

 

9) CHEQUE OS EXAMES QUE VOCÊ PEDIU

Garanta que todos os testes diagnósticos ou consultas adicionais que você pediu foram feitos e que você viu o resultado de todos. Metade dos profissionais na Atenção Primária à Saúde não acompanham sistematicamente o resultado dos testes e consultas que solicitou. Isso é perigoso, pois pode fazer com que resultados importantes sejam ignorados e diagnósticos, perdidos – sem falar no custo da duplicação desnecessária de exames.

Portanto, entre as nossas dicas para prevenir erros diagnósticos, vai esta: desenvolva algum sistema para garantir que todos os exames que você pediu foram foram feitos, que os resultados foram vistos, e que todas as ações necessárias a partir desses resultados foram tomadas – inclusive, para que alguém faça isso por você quando você estiver de férias.

 

10) SEJA INFORMADO QUANDO ERRAR ALGUM DIAGNÓSTICO

Sabe aquele diagnóstico que você tinha certeza? Pois é, e se ele estava errado? Se você não ficar sabendo, você não vai poder fazer nada – e nem aprender com isso.

O feedback é uma etapa fundamental para a aprendizagem e para o contínuo aperfeiçoamento na profissão.

Peça aos seus colegas que informem você se você errar algum diagnóstico – de preferência, a tempo de ajudar o paciente. Ajude a criar e a manter uma cultura, entre sua equipe, de falar abertamente sobre os erros, sem apontar culpados ou iniciar alguma caça às bruxas.

Somos humanos. Erramos. Mas precisamos falar sobre nossos erros; só assim aprenderemos com eles e nos tornaremos verdadeiros experts.

 

Gostou?

Coloque em prática hoje mesmo nossas dicas para prevenir erros diagnósticos!

E compartilhe estas dicas com seus colegas, para podermos ajudar mais gente!

PARA SABER MAIS:

Graber M. Minimizing diagnostic error: 10 things you could do tomorrow. Inside Medical Liability, 2014.

Van Such M et al. Extent of diagnostic agreement among medical referrals. Journal of Evaluation in Clinical Practice, 2017.

Institute of Medicine. Improving diagnosis in health care. Washington DC: National Academies Press, 2015.

 

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